Uma das curiosidades e lados positivos de certas viagens, é poder conhecer e partilhar os gostos e vivências das pessoas. Deixo, neste primeiro post, um petisco mui apreciado no Cambodja, a que apelidei de "lamejinhas à la Oriental". Pois que este petisco é uma espécie de conquilha, que é deixada todo o dia ao sol, numa chapa metálica, daquelas usadas nos telhados. E assim, basicamente, o bicho é assado na chapa. Ahh, confesso que este petisco não me passou pelo estreito.
"Once upon a time", havia uma criança soldado, nascida por volta de 1974, cujos pais terão sido mortos pelo regime Khmer Vermelho de Pol Pot, que cresceu na selva e que combatia na facção dos Khmer Vermelhos. aos 6 anos, aprendeu a matar.
O seu verdadeiro nome, nem ele próprio o sabia. O seu nome actual, Aki Ra é recente, vem do japonês, e quererá dizer "homem com cara de bebé.
Por volta de 1983 foi capturado pelo exército Vietnamita, tendo sido obrigado a integrar as suas fileiras. Até que após a queda do regime de Pol Pot, foi integrado no exército nacional cambodjano e aprofundou e desenvolveu os conhecimentos na área da desminagem (durante a guerra, terá plantado, à força, milhares de minas). Após a guerra, e por conta própria, assumiu por conta própia aquilo que o Governo ão conseguia fazer, sobretudo por falta de fundos: a desminagem do país (inicialmente, apenas com um pau comprido e uma faca). Estima já ter destruído milhares de minas em território cambodjano, sobretudo na área de Angkor/Siem Reap. E tem um museu, a poucos Kilometros de Siem Reap, que serve de não só de escola e local de acolhimento a crianças desfavorecidas ou orfãos de guerra ou mutilados da guerra (uma NGO), como de centro de alerta e divulgação nacional e mundial para o problema das minas. No Museu, o silêncio é profundo. Lá, são mostradas minas e bombas desactivadas ou armamento bélico desde o mais caseiro, ao mais avançado, mortífero e destruídor. ou ainda antigas fardas, fotografias da época, ou relatórios dos processos de aniquilação ou tortura que serviram para um fim brutalmente trágico.
A foto acima, mostra alguns dos acolhidos, a trabalhar na limpeza de antigas minas, previamente removidas.
O peso da guerra, no seu todo, é muito pesado e sente-se constantemente. Estima-se que ainda haja milhões de minas por detonar, algures nos campos do país, continuando a matar e a ferir a população inocente.
Soube, há pouco tempo, que está a ser realizado um filme sobre a vida do Aki Ra intitulado "YEAR ZERO: Story of a Khmer Rouge Soldier" .. podem aceder aqui
Fisherman in Rice Field, Cambodia, en route from PoiPet to Siem Reap
No regresso ao Cambodja, saíndo de carro da Tailândia e após passar uma fronteira um pouco tumultuosa (leia-se 5 polícias numa sala a olhar para o ar, enquanto um outro trabalhava) e os habituais "facilitadores", apanhámos o primeiro transporte possível para Siem Reap. Dividindo o taxi com duas italianas muito "macho man" e por $15 por cabeça, lá fomos pela estrada empoirada, poeirenta e escavacada. Não sem antes termos abastecido, o gas, no local mais tecnologicamente avançado e com extremo cuidado na protecção e higiéne no trabalho.
E juro que por vezes, passávamos uns minutos sem ver mais além que 5metros, tanto era o pó no ar. nestas alturas tentava pensar nas estatísticas dos acidentes rodoviários em Portugal .. e em que não seria num país tão remoto que eu passaria a estatística...
"Refueling Station" in Poipet
A viagem prosseguiu por uma extensa planicie, cercada por arrozais, numa estrada que está a ter tentativas de ser pavimentada. Tentativas porque em épocas de cheias, a inundação da estrada é garantida, razão pela qual parte ter sido elevada acima do nível dos campos, com a construção extra de pontes. Pontes essas que se revelaram um ponto de concentração de pescadores. porque o peixe que cruza os arrozais (sim há peixe nos arrrozais!), passa tendencialmente por baixo das pontes (considere-se uma ponte, com 2mts de altura e e de comprimento, nada de mto avançado) e fazem-se represas, lançam-se anzóis ou redes para a captura do dito .. peixe do arrozal. Pela estrada fora, cruzámo-nos com as habituais pickups/camião (aquele modelo de pickup onde cabe tudo, até já não caber nada, devidamente empilhado e dentro dos limites de carga .. ou não), bicicletas, juntas de bois, motoretas equilibristas e por aí fora.
Route 6, Cambodia
Houve tempo para uma paragem rápida, onde tivémos a oportunidade de tomar a única refeição em 12h, que consistiu numa caixa de batatas Ruffles e uma cerveja Angkor, bem fresca e sem pó.
Quase 8horas depois de termos saído de Bangkok, chegámos moídos e salvos a Siem Reap, novamente a nossa casa por mais uns dias, desta vez forçados.
"The word mogwai is the transliteration of the Cantonese word 魔怪 (mo1 gwai2) (Mandarin Chinese: 魔鬼; pinyin:móguǐ) meaning "monster", "evil spirit", "devil" or "demon"." in Wikipedia
Mas para nós, gente com os pés um pouco mais na terra, nada disto interessa. Mogwai é o nome de uma banda escocesa, proveniente do caldeirão cultural que é Glasgow, com muitos anos de post-rock, sobretudo instrumental, em cima do lombo. Com 10 albuns em praticamente 12 anos, contam com participações em bandas sonoras em "The Fountain" de Darren Arenofsky, "Zidane: A 21st Century Portrait" (integralmente escrito e tocado pela banda e já aqui comentado) ou Miami Vice.
Por isso mesmo, eles vêm aí!
Acolhamo-los de braços abertos!
não podia de postar esta foto do baterista Martin Bulloch ..